Page 158 - Garantia do Direito à Educação
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Roberto Rafael Dias da Silva


                    de estudo destinado a modificar as práticas cotidianas e, ao mesmo tem-
                    po, definiriam as condições ideais de atuação e formação dos professores.
                         Ampliando a argumentação, conforme Popkewitz (2015, p. 432),
                    as práticas seriam compreendidas como “teorias de desejos a materia-
                    lizar”. A opção pelas práticas delinearia uma forma mais “autêntica”
                    para pensar as condições da escolarização e, concomitantemente, defi-
                    niriam modos privilegiados de pensar e atuar nos processos formativos.
                    Em outras palavras, do ponto de vista da epistemologia social descrita
                    por Popkewitz (2015, p. 434), a centralidade das práticas definiria mo-
                    dos específicos de pensar e fazer docência:

                                     A investigação sobre a prática é uma teoria sobre o que as pessoas
                                     fazem e deveriam fazer. A prática é uma abstração cuja catego-
                                     rização converteu-se na origem do educativo. “A prática” é uma
                                     forma de falar e atuar sobre como as coisas que formam o ensino se
                                     mantem unidas para serem incorporadas no que constitui um pro-
                                     fessor. Essa forma de falar e de atuar funciona como uma categoria
                                     dominante que incorpora uma série de atributos e características
                                     que se conectam para pensar em certos eventos e pessoas.


                         Assim, poderíamos interrogar se a centralidade das práticas mais
                    que fabricar uma determinada configuração de formação de profes-
                    sores não estaria engendrando uma específica forma de ser docente.
                    Novamente em aproximação a Popkewitz (2015, p. 434), poderíamos
                    assinalar que “a prática é uma declaração teórica sobre um tipo de pes-
                    soa ideal que a investigação conceitua, calcula e mede para reconhecer
                    suas características e capacidades”. O próprio professor torna-se alvo
                    de uma teoria da mudança que, ao enfatizar as práticas, concebe novos
                    modos de perícia profissional para os docentes contemporâneos e, de
                    forma paradoxal, redefine as relações entre teoria e prática.


                    Paradoxo IV: o professor torna-se seu próprio
                    centro de competência


                         Associado ao paradoxo anterior, poderíamos descrever uma ten-
                    dência na literatura educacional, bem como agenda das políticas im-


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