Page 163 - Garantia do Direito à Educação
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Garantia do Direito à Educação: monitorando o PNE – Lei nº 13.005/2014


                 uma defesa da escolarização e da dimensão pública exercida pela do-
                 cência. Reconhecendo a importância e a inserção dos jovens em um
                 mundo preexistente, com Hannah Arendt (2013) consideramos que a
                 preocupação com a transmissão cultural “faz parte da essência mesma
                 da atividade educativa cuja tarefa é sempre acarinhar e proteger algu-
                 ma coisa”. Uma “atitude conservadora”, na acepção arendtiana, não
                 supõe uma manutenção do status quo, visto que “o mundo é feito por
                 mortais, ele é perecível”. A cada geração, reinventa-se o compromisso
                 de preservar o que somos, com vistas a proteger a novidade oriunda de
                 cada recém-chegado. A tradição e suas formas de transmissão ainda
                 são importantes ferramentas para a esperança em um futuro melhor,
                 sobretudo na formação de professores, visto que “uma educação sem
                 ensino é vazia e degenera com grande facilidade numa retórica emo-
                 cional e moral”, como assinala Arendt.
                      A Contemporaneidade Pedagógica, em sua multidimensionalida-
                 de, explicita novos cenários e novos sentidos para pensar a profissão e a
                 formação docente. Sob as condições de uma “Sociedade do Cansaço”,
                 o trabalho docente torna-se autorreferenciado, especialmente ao ser
                 regulado pela lógica do rendimento. Do ponto de vista pedagógico,
                 essa questão é complexificada pelo esmaecimento do ensino, favore-
                 cendo modelos pedagógicos ancorados em noções individualizantes de
                 aprendizagem. Todavia, tais condições não bloqueiam nossa aposta nos
                 sentidos públicos da escolarização, na qual a filosofia arendtiana leva-
                 -nos a pensar em outras atitudes intelectuais. O professor Solanka e
                 sua boneca Little Brain, emblemáticos personagens de Salman Rushdie
                 com os quais abrimos este artigo, constituem-se em importantes alego-
                 rias para pensar os sentidos de nosso fazer pedagógico, em um mundo
                 convulsionado pelo individualismo e pela busca de desempenho e de
                 visibilidade a qualquer preço. Que saibamos inventar novas docências,
                 agenciadoras de outros mundos!











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