Page 19 - Ação integrada de formação de professores
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do Rio Grande do Sul. Desse modo, entendemos que “[...] o que somos ou, melhor ainda, o
sentido de quem somos, depende das histórias que contamos e das que contamos a nós
mesmos. Em particular, das construções narrativas nas quais cada um de nós é, ao mesmo
tempo, o autor, o narrador e o personagem principal” (LARROSA, 1994, p. 48).
De certa maneira, contamos histórias a partir de discursos que conhecemos. São histórias
que já nos contaram ou lidas outrora, que de alguma forma continuam a nos interpelar e a
contribuir para a produção das nossas próprias narrativas. Também é possível dizer, a partir
das considerações de Larrosa (1994), que narrar é enumerar, ordenar e conservar algumas
informações já vividas ou experimentadas em um determinado tempo e espaço.
A ideia, então, é apresentar um recorte sobre formação continuada dos profissionais
da educação, envolvendo diferentes atores intersetoriais, engendrando ações colaborativas
na perspectiva de governança educacional. Nesse sentido, os fios escolhidos para tramar este
trabalho são: a formação continuada, o Novo Marco Regulatório do Terceiro Setor e a consulta
pública. Estes fios fazem parte de uma história num determinado espaço e tempo (2016-
2018) e acompanharam a organização da formação continuada específica, considerando os
dispositivos avaliativos externos intergovernamentais (SAEB e SAERS). O caráter pedagógico
interdiscursivo se debruçou sobre as diferenças, as preocupações, reivindicações e questões que
se apresentam no cenário educacional, neste caso, no território. Enfim, se narrar é constituir,
bem como, dizer o que está dentro e fora do contexto, é também entrar numa lógica em que
se confere à narrativa, um jeito de dar sentido à produção da formação continuada construída
coletivamente com os profissionais da educação.
Tais considerações nos permitem repensar a aproximação dos docentes como uma das
práticas centrais na produção da cultura escolar, no que diz respeito ao processo de formação
na perspectiva de política educacional de território (profissionais da educação do Estado e dos
municípios inseridos no projeto), possibilitando diferentes formas de tornar-nos sujeitos e de
sermos subjetivados pelas práticas pedagógicas. Assim,
[...] o sujeito pedagógico ou, se quisermos, a produção pedagógica do sujeito, já não é
analisada apenas do ponto de vista da “objetivação”, mas também e fundamentalmente
do ponto de vista da “subjetivação”. Isto é, do ponto de vista de como as práticas
pedagógicas constituem e medeiam certas relações determinadas da pessoa consigo
mesma. Aqui os sujeitos não são posicionados como objetos silenciosos, mas como
sujeitos falantes; não como objetos examinados, mas como sujeitos confessantes; não em
relação a uma verdade sobre si mesmo que lhes é imposta de fora, mas em relação a uma
verdade sobre si mesmo que eles mesmos devem contribuir ativamente para produzir
(LARROSA, 1994, P. 54).
Dessa forma, o texto pretende abordar as estratégias de formação continuada dos
profissionais da educação do Estado do Rio Grande do Sul, considerando as escolhas populares,
os dispositivos legais que permitiram tal política e a governança empreendida para tal ação.
A Consulta Popular como estratégia para a Formação Continuada em território
O Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1998, instituiu a Lei nº 11.179, a qual estabelece
que a população defina diretamente parte dos investimentos e serviços que constarão no
orçamento do Estado. Esse processo foi denominado de Consulta Popular.
Dessa forma, o processo popular completou 20 anos e demostra a capacidade de
engajamento da sociedade gaúcha na tomada de decisão do que é importante para cada região.
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 18
FORMAÇÃO DE PROFESSORES