Page 25 - Ação integrada de formação de professores
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Dessa maneira, as políticas públicas para os diferentes níveis e modalidades de ensino,
neste contexto, pretendem propor uma coerência interna das políticas educacionais, sua
organicidade na busca de um reordenamento da educação, evidenciando o caráter de gestão
descentralizadora e democrática realizada por meio desta pasta pública. Bauman (2000)
sublinha que
[...] a arte da política se for democrática, é a arte de desmontar os limites à liberdade dos
cidadãos; mas também a arte de autolimitação: a de libertar os indivíduos para capacitá-
los a traçar, individual e coletivamente, seus próprios limites individuais e coletivos
(BAUMAN, 2000, p. 12).
A formação continuada está inscrita em significados produzidos pelos educadores
que partilham os discursos pedagógicos, que organizam e regulam as práticas docentes,
estabelecendo regras, normas e convenções. Varela (2002, p. 93) observa que os saberes
pedagógicos são o resultado, em boa parte, da articulação dos processos que levaram à
pedagogização dos conhecimentos e à disciplinarização interna dos saberes. Dessa forma,
ações como estas permitem um terreno no qual os professores discutem e questionam
os diversos discursos e práticas culturais. O ganho pedagógico dessa abordagem está
na desnaturalização dos discursos apresentados como verdades únicas. Nessa esteira de
pensamento, a produtividade está justamente nas formações continuadas, nas discussões
abertas a contestações e nas críticas produtivas. Assim, a pedagogia torna-se uma prática
cultural que deve ser de responsabilidade ética e política de quem a pratica. Então, a formação
continuada não é um processo inocente e neutro. Pelo contrário, ela é portadora de questões
sociais e significativas que tensionam e problematizam as situações desse tempo. Trata-se
de um campo produzido social e culturalmente no qual estão implicados valores, crenças,
interesses e saberes em disputa pelos sujeitos envolvidos nesse processo.
Entretanto, nada disso faz sentido se os efeitos da formação continuada não forem
internalizados nos saberes e fazeres de sala de aula. É preciso que tais políticas tenham
continuidade nos contextos escolares. Espaços de discussão, problematização, reflexão e ação
são imprescindíveis para a atuação docente, considerando os eixos aqui abordados. Além
disso, cabe a provocação: quem são os sujeitos do século XXI que estamos formando? De que
forma os eixos formativos e seus desdobramentos implicam nos estudantes em tempos de
complexidade? Indubitavelmente, estas reflexões/indagações não serão respondidas neste
texto, mas se constituem como elementos importantes a serem pensados e discutidos também
nos espaços formativos, podendo constituir outros fios que precisam ser tramados na teia da
formação docente.
Concluindo provisoriamente
O conjunto de ações voltadas à formação continuada tencionaram inúmeras práticas
didático-pedagógicas nas redes educacionais do Estado e dos Municípios envolvidos nesta
ação. O projeto pensado de forma colaborativa mobilizou as Secretarias de Estado (Educação -
Planejamento e Gestão), as Secretarias Municipais de Educação e as Universidades Comunitárias
por meio do COMUNG. Nessa perspectiva de governança, foi possível pensar e agir de forma
estratégica, a fim de enfrentar as dificuldades diagnosticadas. Os relatos e as experiências dos
profissionais da educação designados para tal acompanhamento pulverizaram e provocaram
outras discussões em rede, tendo os eixos articulados na formação continuada como outras
possibilidades, outras lentes e outros caminhos.
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 24
FORMAÇÃO DE PROFESSORES