Page 87 - Ação integrada de formação de professores
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incertezas do período atual, “o principal trabalho começa agora, nas escolas” (CALLEGARI,
2017, p. 45), uma vez que caberá aos profissionais da educação a construção de um currículo
que vise à formação de indivíduos mais críticos, que possam intervir na construção de uma
sociedade mais justa e igualitária. Callegari finaliza sua declaração reafirmando que “é com
eles e por eles que a BNCC ganhará significado e concretude. É [...] no chão da escola e na
consciência dos professores, que ela irá adquirir a sua identidade na história da educação
brasileira”, como política educacional.
2. BNCC e sua inserção no campo das políticas educacionais
É fundamental compreender o contexto em que a proposta da BNCC está inserida e
os processos e intenções que redundam em determinadas construções. A ideia do ensino por
competências parte da premissa de que não basta apenas educar; é preciso aprender a empregar
convenientemente os conhecimentos adquiridos (SHIROMA, et. al., 2011). É inegável que tal
perspectiva se insere numa lógica de reestruturação produtiva. Essa afirmação não se restringe
a uma concepção fabril do século XIX. Ela permanece atual na medida em que nos remete
a uma perspectiva de viés mais utilitarista da aprendizagem, na qual aquilo que é ensinado
pela escola precisa encontrar aplicabilidade direta e incontestável no mundo do trabalho. Do
contrário, a aprendizagem poderia ser classificada somente como conhecimento, o que soa
como excessivo, dispendioso e dispensável.
Compreender tal vinculação não remete a meras indisposições com relação ao tema e
tampouco à desconsideração acerca da importância de seu estudo. As lógicas sociais em que
a educação está inserida são vivas e dinâmicas. Novas necessidades e demandas surgem. O
desafio que está colocado encontra-se ligado à qualidade e às intenções que coordenam essas
mudanças. Manifestamos, desde logo, nossa concordância em relação a essas mudanças e
ligações com as novas lógicas de trabalho, ao mesmo tempo em que também expressamos
a convicta defesa em favor de processos pautados pela qualidade, pela seriedade e pelos
imperativos da formação, da democracia e das boas condições de trabalho.
Outra compreensão igualmente importante diz respeito à inserção da proposta da BNCC
no campo das políticas educacionais. Para isso, é imprescindível o entendimento sobre como
é feita uma política e o que caracteriza uma política pública. A noção de política como atuação
do Estado em diferentes áreas e em diferentes articulações que demandam ou possibilitam os
encaminhamentos necessários rompe com o enfoque pautado por “uma concepção abstrata
dos ‘requerimentos de acumulação’, o que pouco auxilia na apreensão do fenômeno em sua
concretude e complexidade” (AZEVEDO, 2008, p. 58). Dizer isso é ressaltar a importância de
“levar em conta os processos que conduzem à definição de uma política no quadro mais amplo
em que as políticas públicas são elaboradas” (AZEVEDO, 2008, p. 59).
Ao pautar-se por categorias emergentes apreendidas das manifestações feitas por
coordenadoras pedagógicas de duas turmas participantes do curso de formação oferecido pelo
Comung, o texto ancora-se numa perspectiva política que vincula o fazer e a compreensão
pedagógica à própria constituição da educação como política pública. Assim sendo,
aproximando-nos das palavras de Azevedo, “o cotidiano escolar, portanto, representa o elo
final de uma complexa cadeia que se monta para dar concretude a uma política – a uma policy
– entendida aqui como um programa de ação” (idem).
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 86
FORMAÇÃO DE PROFESSORES