Page 90 - Ação integrada de formação de professores
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se inserem é elemento balizador para que as disciplinas escolares estejam inscritas num
currículo em movimento.
Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e
procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores
para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo
do trabalho (BRASIL, 2017, p. 8, grifos nossos).
Conforme mencionado na seção anterior, a concepção de aprendizagem na BNCC evoca
sua mobilização em prol da resolução de questões reais, do aqui e agora do nosso dia a dia, ou,
ainda, daquilo que é hodierno. Nesse sentido, embora na definição de competência expressa
no documento, o “exercício da cidadania” esteja em paralelismo ao “mundo do trabalho”,
é inegável que a compreensão mais utilitarista do conhecimento seja uma das marcas do
documento.
No entanto, há um ponto interessante a ser destacado aqui: a necessária e urgente
produção de sentido dos conteúdos escolares. Parece-nos que o convite para “resolver
demandas complexas da vida cotidiana” possa suscitar um interessante debate sobre a relação
da escola com o mundo..., que não está lá fora, mas dentro da própria sala de aula. Desse modo,
ao considerarmos que a noção de competência se articula à ideia de mobilização, de aplicação e
contexto, a elaboração de um currículo por competências deve atentar para aspectos que visem
à garantia da produção de sentido pretendida, conforme indicado por Léa Depresbiteris (apud
UNISINOS, 2006, p. 13):
• Estruturação do conhecimento de acordo com um pensamento interdisciplinar;
• Desenvolvimento de atividades que mobilizem as competências;
• Incentivo à resolução de problemas novos;
• Evitar a simplificação dos problemas, contemplando a complexidade do mundo;
• Focalizar a construção do conhecimento e não a sua reprodução;
• Construir, de maneira coletiva, o conhecimento, reforçando a negociação e não a
competição;
• Diversificação dos meios de desenvolvimento das competências.
Trata-se de pontos, na maioria das vezes, abordados exaustivamente tanto em âmbito
escolar, como no que se refere à produção teórica no campo educacional. Porém, também
sabemos o quanto a efetivação desses pontos está esmaecida em boa parte das escolas, sejam elas
públicas ou privadas. Assim sendo, uma questão central para que o currículo por competência
se converta em ensino por competência é o entendimento de que explicações do tipo: – Prestem
atenção, que vocês precisarão disso no ano que vem! – Um dia vocês irão precisar!, já não
encontrarão lugar no espaço escolar. Isso, é claro, levando-se em conta a intencionalidade de
transformar o currículo de papel em currículo vivo.
Nesse sentido, a dinâmica do fazer docente também é alterada, uma vez que o professor,
mais do que nunca, precisa atentar para a produção de sentido do conteúdo trabalhado.
Entretanto, é importante salientar que grande parte dos docentes, em especial por considerar
os perfis dos estudantes hoje, investe em estratégias distintas, como forma de mobilizá-los em
sala de aula e, prioritariamente, na construção do conhecimento. Os professores, porém, uma
vez que suas práticas pedagógicas são colocadas permanentemente sob suspeita, denotam
angústia em relação ao que está por vir, conforme explicitado nos excertos abaixo:
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 89
FORMAÇÃO DE PROFESSORES