Page 89 - Ação integrada de formação de professores
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destinação de significado muito pontual à BNCC, garantindo-lhe funcionalidade e avanço em
relação a problemas que, na verdade, são eventuais.
Pergunto-me se estas “competências gerais” não são apenas uma reformulação daqueles temas
transversais. Desde que fiz o Magistério ouço falar destas competências que, ao longo destes quase
vinte anos, vão ganhando nomes diferentes, transvestidas de inteligências múltiplas (Gardner),
competências e habilidades (Perrenoud), temas transversais, projetos transdisciplinares,
aprendizagem por valores e atitudes, avaliação formativa... Professores e gestores estão em
constante movimento, parece-me que o que não muda são as estruturas de governos que acabam
por, direta ou indiretamente, culpabilizar o professor e criar propostas, por vezes, “salvacionistas”.
A manifestação acima, por sua vez, expressa uma compreensão mais ampliada da BNCC
e igualmente ganha notoriedade no conjunto de manifestações dos professores. Ela se inscreve
num contexto legítimo da formação e do histórico vivenciado pelos professores implicados
nas modificações da ordem da política. Além disso, revela uma apropriação dos manifestantes
como sujeitos da política, com capacidade, inclusive, para questionar seus ditames, por tê-los
vivenciado e por terem sido os seus executores.
Vê-se as mudanças curriculares como avanços na educação básica, porém, têm-se receios quanto
ao enfrentamento destas mudanças, frente a não preparação do docente para enfrentar esta nova
visão de educação. Tenho também algumas expectativas como por exemplo, como será feito o
controle para que haja essa real mudança, a fim de que trabalhemos realmente numa rede. Contudo,
minha maior expectativa é ver nosso jovem realmente envolvido num processo de educação onde
os valores e reais ações aconteçam para a contribuição de si mesmo como cidadão transformador e
atuante numa sociedade mais humana.
Tal manifestação consagra a ideia da política como norteadora da ação pública. No caso
da docência, tal compreensão carrega a esperança em mudanças que possam ser significativas
e a permanência do alinhamento com compromissos pedagógicos, os quais, no caso da
BNCC, encontram-se implicados, entre outros aspectos, na organização de um ensino por
competências.
3. O ensino por competências na BNCC e seus desdobramentos na escola
A ênfase no ensino por competências tem sido alvo de debates acalorados no contexto
escolar, especialmente, após sua apropriação pela BNCC. Situação semelhante ocorreu
quando, no final da década de 1990, a UNISINOS elabora um novo Projeto Político Pedagógico
(PPP) para o curso de Geologia, no qual faz uso do conceito. Desde então, a universidade
vem discutindo e construindo sua própria ideia do que seja um currículo orientado por
competências. Essa construção, passados vinte anos da elaboração do referido PPP, segue
acontecendo no interior da instituição, empreendida pela gerência responsável pela elaboração
de currículos e, igualmente, pela formação de professores da UNISINOS.
Embora com nuances e dimensões totalmente distintas, se comparado à implantação
de uma base comum curricular nacional, iniciamos com este brevíssimo relato, com o intuito
de compartilhar expectativas e anseios desencadeados por qualquer mudança dessa ordem,
sobretudo, porque “o ensino comprometido com o desenvolvimento de competências exige a
observação de alguns aspectos no processo de organização do currículo” (UNISINOS, 2006, p.
11) e traz importantes implicações para o trabalho docente. No que diz respeito à estruturação
curricular propriamente dita, a compreensão do contexto social e cultural em que os estudantes
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FORMAÇÃO DE PROFESSORES