Page 88 - Ação integrada de formação de professores
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Consagra-se, assim, uma lógica analítica que se inscreve nas dimensões de compreensão
de uma política pública: cognitiva (conhecimento técnico-científico e representações dos
fazedores das políticas); instrumental e analítica. Por meio desse enfoque,
“abrem-se novas dimensões investigativas, que, sem desconsiderar os determinantes
de ordem mais estrutural, sugerem o uso de ferramentas que permitem considerar o papel
das subjetividades e dos sistemas valorativos no desenrolar das ações/relações sociais. Este é,
sem dúvida, um campo importante na construção da vida cotidiana, mas pouco explorado nos
estudos próprios da área. Desvendá-lo, portanto, pode ser um modo de ir bem mais adiante
dos desvelamentos que se voltam para as chamadas ‘grandes determinações’, que pouco têm
acrescentado em termos de respostas mais concretas para o surgimento de um padrão mais
igualitário para a política educacional” (AZEVEDO, 2008, p. 67).
Dentro da estruturação proposta pelo texto, alguns recortes de manifestações das alunas
do curso, conforme já explicitado, foram buscados e categorizados, na tentativa de mapear a
construção que está sendo feita a partir da política da BNCC e as apropriações que os gestores
responsáveis pela condução política e pedagógica da escola têm conseguido fazer a partir das
diretrizes e formações que vêm sendo oferecidas.
Em primeiro lugar, cabe enfatizar a clara distinção existente entre possibilidades e
desafios. No primeiro grupo, inserem-se manifestações que versam sobre o alinhamento
do trabalho escolar, padronização da base curricular, adaptação de metodologias para a
aprendizagem, superação de uma forma ultrapassada de ensinar e preparação dos professores
e das escolas para as mudanças pretendidas.
No campo dos desafios, as manifestações expressam inquietações relativas ao que
distingue de fato as competências de outras propostas que já fazem parte da prática docente;
relativas ao fato de que nada mudará enquanto as condições das escolas permanecerem as
mesmas; relativas a como se dará a regulação da BNCC; relativas ao impacto da Base na
formação de alunos e professores.
A eloquência das manifestações de algumas alunas oferece interessantes pistas para a
compreensão do processo da política por aqueles que serão os seus executores e que, pelos
últimos momentos de construção experimentados, não estiveram no protagonismo das
escolhas feitas. Evidentemente, essas falas precisam ser compreendidas aqui como um conjunto
de manifestações individuais. Elas são utilizadas na íntegra para evitar recortes equivocados.
A complementaridade entre os excertos está sendo promovida por essa escrita - assim como
também o foi por meio das mediações no fórum de participação e nos encontros presenciais - e
não necessariamente está expressa nas manifestações individuais das participantes.
Acredito que a BNCC, como seu nome já diz, Base Nacional Comum, venha para padronizar a
educação em nosso país, no que diz respeito as competências e habilidades a serem desenvolvidas
durante os anos de escolarização, para que todos os estados brasileiros sigam uma mesma linha na
educação, facilitando para os estudantes quando estes migrarem de um estado para outro, o que
é muito comum em nosso país, respeitando, é claro, as peculiaridades de cada estado brasileiro e
de cada localidade. 4
Tal manifestação alinha-se a uma apreensão bastante instrumental da BNCC,
compreendendo-a como uma facilitadora da mobilidade estudantil. Trata-se de um argumento
bastante recorrente, que pautou boa parte das manifestações das alunas e que revela uma
4 Os excertos foram copiados na íntegra, sem qualquer correção gramatical.
AÇÃO INTEGRADA DE SUMÁRIO 87
FORMAÇÃO DE PROFESSORES