Page 212 - Garantia do Direito à Educação
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Jane Paiva


                    rica, aliás, ela acaba induzindo a uma prática, pobre aliás”, encobrindo-se, de
                    fato, a nova desigualdade gerada pelo que tem sido chamado de exclusão.
                         Para o autor, o termo exclusão substitui a ideia de processos de ex-
                    clusão, e em vez de ser concebida como expressão da contradição no
                    desenvolvimento da sociedade capitalista, passa a ser vista como um
                    estado, uma coisa fixa, irremediável e fatal (Martins, 2009, p. 16-17).
                         A forma de considerar os até então marginalizados (de direitos
                    sociais) como  excluídos tem referência à exclusão do consumo, ou
                    seja, dos bens econômicos, e quando o acesso a esses bens se dá, gera
                    a ilusão de inclusão, apartada da consciência de que são os direi-
                    tos sociais os fatores integradores e produtores da condição cidadã
                    (Sawaia, 2009, p. 8).
                         Matrizes conceituais como direito e democracia são conceitos fun-
                    dantes da ampliação da compreensão do que é a EJA, na contempo-
                    raneidade. Essas matrizes, orientadoras do governo Lula e do projeto
                    social que se instalou a partir de 2003, mudou o rumo da educação e de
                    prioridades até então existentes no país. Uma delas, o requerimento da
                    educação profissional para jovens e adultos, considerados precipuamen-
                    te sujeitos de direito à formação, tendo em vista a condição de trabalha-
                    dores, questão que desde a década de 1990 tem sido marcada por tensões
                    entre governo e movimentos sociais.
                         O atendimento a demandas de qualificação e requalificação pro-
                    fissional de jovens e adultos trabalhadores de baixa escolaridade, no
                    contexto da lógica neoliberal, surgira como resposta à empregabili-
                    dade,  entendida  como  condição  individual  necessária  ao ingresso  e
                    permanência no mercado de trabalho, de responsabilidade exclusiva
                    dos trabalhadores. Mas fez também despontar uma rede específica de
                    cursos de curta duração, dissociados da educação básica e de planos de
                    formação continuada no âmbito de políticas educacionais e de traba-
                    lho e emprego, que resultou em perdas para os trabalhadores, pois que
                    os cursos, sem a escolaridade básica, de pouco adiantavam. Pelo que
                    tem significado para o mercado e para indutores de formação de tra-
                    balhadores, como o caso do Sistema S e de muitas organizações cons-
                    tituídas para esse “fácil” fim de recolher recursos públicos, a disputa
                    entre formação e oferta aligeirada de cursos profissionais confunde e


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