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Jane Paiva


                    mologia  para a qual o ponto de ignorância é o colonialismo e o ponto
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                    de saber é a solidariedade (conhecimento como emancipação)” (Santos,
                    1999, p. 110). Para o autor, a reinvenção da deliberação democrática im-
                    plica a reconstrução de novos espaços-tempos que façam frente à com-
                    pressão e à segmentação do espaço-tempo, e que possam incluir o local,
                    o regional e o global, além de atender a exigências cosmopolitas, cujo
                    sentido último é a construção de um novo contrato social.
                         Atribuindo aos sujeitos, no cotidiano, a possibilidade de reinventar a
                    emancipação social, Santos (2002, passim) propõe a todos nós democra-
                    tizar a democracia, sem o que a injustiça e a desigualdade não dão trégua
                    às populações.
                         Se a condição de trabalhador é uma marca desses novos sujeitos,
                    não basta para pensar políticas educacionais para esse (novo) público.
                    Problematizar o respeito à diversidade de sujeitos e a construção de
                    identidades democráticas põem-se como concepções epistemológicas
                    em disputa, necessariamente emergentes desse modo de pensar políti-
                    ca pública. Talvez esta seja a mais significativa das características dessa
                    forma de fazer política pública dos últimos anos - a diversidade de su-
                    jeitos e suas expressões cotidianas de produzir o mundo e o conheci-
                    mento - conferida à variedade de ofertas de atendimento.
                         A marca mais forte da diversidade, entretanto, em nosso país, ain-
                    da tem se expressado pela desigualdade, o que mobilizou políticas no
                    sentido de reverter a tendência tão naturalizada. Se por um lado, a di-
                    versidade implica o risco da crítica à focalização (pensar alguns sujeitos
                    em detrimento de outros), cabe explicitar que diversamente do movi-
                    mento dos anos 1990, em que uns eram preteridos a outros, o que se
                    percebeu nessas formulações foi o cuidado de marcar as propostas com
                    aspectos próprios da educação de jovens e adultos do ponto de vista do
                    currículo, de conteúdos e de modos de organizar a prática pedagógica
                    segundo movimentos da existência de sujeitos cuja realidade de vida e



                    4  Boaventura de Sousa Santos (1995, p. 25 apud Santos, 1999, p. 110) define que a epistemologia moder-
                    na faz sua trajetória de um ponto de ignorância, designado por ele de caos, para um ponto de saber, que
                    designa de ordem, tomando o conhecimento como regulação.


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