Page 214 - Garantia do Direito à Educação
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Jane Paiva


                                     históricas, geográficas e outras. Entretanto, há relações, pro-
                                     cessos e estruturas de alcance global que constituem o mundo
                                     do trabalho e estabelecem as condições do movimento operá-
                                     rio (Ianni, 1996, p. 17).

                         A perda do emprego passou a ser um processo seletivo, com e
                    sem relação direta ao nível de escolarização – a chamada “educa-
                    ção” – dos trabalhadores. Ao mesmo tempo em que se adensaram os
                    trabalhos informais, pela prestação de serviços, admitiu-se a pouca
                    escolaridade como “natural”, no âmbito dos trabalhos qualificados,
                    e a seleção se estabeleceu pelo predomínio de tecnologias e de sis-
                    temas eletrônicos - trabalhadores desencarnados que substituíram,
                    com vantagem, na linguagem do capital, os profissionais habilitados
                    para funções precisas.
                         O direito ao trabalho e à educação do trabalhador, como direi-
                    tos sociais, se complexificaram. Tensionaram-se relações entre velhos
                    e novos trabalhadores, uns apegados às conquistas históricas das quais
                    usufruíram direitos, outros em disputa pelo direito ao trabalho, na
                    ótica de ter alguma ocupação, em sociedades sem emprego. Os tra-
                    balhadores que se constituíram como tais pelo trabalho, e por esta via
                    constituíram-se cidadãos, questionavam-se sobre um futuro incerto,
                    duvidoso, e frequentemente admitiam que a insegurança era culpa in-
                    dividual, pela baixa escolaridade, pela pouca “educação”. No entanto,
                    como trabalhadores constituíram suas vidas, família, prole, educaram
                    seus filhos, exerceram a cidadania, ensinando o mesmo valor que os
                    constituíra, embora na prática, nem para si próprios, os valores fos-
                    sem mantidos. Desempregados, alimentaram a ilusão de novo empre-
                    go, buscando a chance renovada na escola ou nos cursos de formação
                    profissional, para conseguir novos empregos, para mantê-los ou para
                    ascender a níveis de maior prestígio.
                         O que caracterizou o mundo do trabalho no início do sécu-
                    lo XXI foi que ele se tornou, realmente, global. Não se globalizou
                    apenas o capitalismo, mas também o mundo do trabalho, impon-
                    do-lhe novas formas e novos significados. As mudanças afetaram
                    não apenas as forças produtivas em seus processos e dinâmicas, mas


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