Page 150 - Garantia do Direito à Educação
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Roberto Rafael Dias da Silva


                    simples, na medida em que facilmente podemos recair em clichês, em
                    simplismos ou mesmo em discursos de tom messiânico. Argumentar
                    sobre as tarefas profissionais de nossos professores e professoras, em
                    sua condição existencial e formação acadêmica, pode remeter-nos a
                    saudosismos melancólicos (“um dia fomos valorizados”), apostas va-
                    zias (“somos a profissão do futuro”), ou mesmo – no pior dos casos – a
                    multiplicação de certos determinismos que responsabilizam os pro-
                    fessores pelos êxitos e pelas mazelas de nosso tempo. Para começar
                    este texto, então, propomos uma abordagem mais ampliada, comen-
                    tando nas bordas de uma importante obra literária e disso derivando
                    algumas inquietações – em caráter diagnóstico – para delinearmos
                    as condições profissionais que a Contemporaneidade Pedagógica nos
                    apresenta, bem como para melhor descrever os paradoxos que atra-
                    vessam a formação continuada na atualidade.
                         O romance Fúria, do reconhecido escritor Salman Rushdie (2003),
                    relata a história de um singelo professor de História que, após sua aposen-
                    tadoria em Cambridge, toma a decisão de confeccionar bonecos de ma-
                    deira, um antigo hobby que conservava desde a juventude. Incrivelmente,
                    uma das bonecas do professor Solanka adquire vida (nomeada como Little
                    Brain) e torna-se muito famosa ao participar de um programa de televisão,
                    caracterizado por viagens no tempo, no qual entrevistava alguns dos gran-
                    des pensadores da história. Todavia, em uma narrativa muito sedutora, a
                    boneca escapa do controle de seu criador, a partir de sua aproximação aos
                    executivos da indústria do entretenimento.
                         A obra de Rushdie, em linhas gerais, provoca-nos a pensar sobre as
                    variadas nuances de formação humana, sobretudo ao acompanharmos
                    a narrativa em que Little Brain torna-se um produto de grande suces-
                    so e, ao gradativamente ir afastando-se de seu criador, tende a “trair”
                    as principais convicções – tanto intelectuais, quanto políticas – de seu
                    criador. Em uma interessante fuga para Nova York, o professor Solanka
                    encontra-se com um mundo tumultuado e, ao mesmo tempo, desafiador.
                    Estava diante do século XXI! Nas margens dessa obra, poderíamos seguir
                    interrogando. Como podemos refletir sobre a condição docente na Con-
                    temporaneidade? Que limites são apresentados cotidianamente a nosso


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