Page 151 - Garantia do Direito à Educação
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Garantia do Direito à Educação: monitorando o PNE – Lei nº 13.005/2014
trabalho pedagógico? Que modelos poderiam orientar a composição do
programa de formação continuada de professores na atualidade? Ainda
faz sentido educar em uma sociedade individualizada?
Um primeiro aspecto que poderíamos assinalar refere-se às con-
dições culturais de nosso tempo, caracterizadas pelo filósofo coreano
Byung-Chul Han (2012) como “sociedade do cansaço”. Lembra-nos
o filósofo que cada sociedade apresenta suas enfermidades caracterís-
ticas, ora virais, ora bacterianas. De acordo com o filósofo, o século
XXI evidencia o apogeu das “enfermidades neuronais” – evidencia-
das nas neuroses, depressões, distúrbios de atenção, etc. Todavia,
lembra-nos Han (2012, p. 20) que a figura originária deste tempo,
uma sociedade do cansaço, é o sujeito da autoexploração, “que se
torna presa de um cansaço infinito”. Em uma lógica social demar-
cada pelo rendimento, os próprios indivíduos, ao tornarem-se donos
de si mesmos, ingressam em processos laborais ambivalentes, sendo
“vítimas e verdugos de si mesmos” (Han, 2012, p. 20). Argumenta o
filósofo coreano que “essa autorreferencialidade gera uma liberdade
paradoxal que, com as estruturas de obrigação imanentes a ela, con-
verte-se em violência” (Han, 2012, p. 20).
Na medida em que estamos expostos às condições laborais de uma
“sociedade do cansaço”, conforme assinala Han, no que tange ao tra-
balho dos professores, bem como com relação as suas possibilidades
formativas, esse cenário se complexifica com o declínio da função pú-
blica do ensino (Biesta, 2016). Nessa direção, outro aspecto que im-
portaria destacar trata-se da emergência de uma nova linguagem da
educação, na qual a centralidade dos estudos, das políticas e das práti-
cas pedagógicas encontra-se na aprendizagem. Adverte-nos Gert Bies-
ta que a era das aprendizagens permanentes, um aprender a aprender
individualizado, produz uma erosão do ensino enquanto tarefa pública
e, mais que isso, distancia-nos do debate acerca dos propósitos públicos
da escolarização. De acordo com o pesquisador, a noção de “aprendiza-
gem”, tal como está sendo utilizada no mundo anglófono, “é um termo
individualista e individualizante”, afastando-nos da perspectiva de que
“aprendemos sempre algo de alguém” (Biesta, 2016, p. 32).
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