Page 152 - Garantia do Direito à Educação
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Roberto Rafael Dias da Silva


                         Assim sendo, nas condições de uma sociedade do cansaço, descri-
                    ta por Han (2012), justaposta à emergência de uma nova linguagem
                    da aprendizagem, apontada por Biesta (2016), as políticas de formação
                    continuada precisam ser analisadas a partir de seus variados regimes de
                    implementação. Nossa intenção para este artigo passa por diagnosticar
                    e problematizar alguns dos paradoxos derivados dos modelos predomi-
                    nantes em nosso país. A composição do artigo está organizada a partir
                    da realização de apontamentos em torno de cada um dos cinco parado-
                    xos selecionados para este momento.


                    Paradoxo I: a formação de professores emerge
                    nas margens da universidade europeia


                         Na abertura de uma importante coletânea, Tardif e Lessard (2011a)
                    produzem algumas reflexões sobre o cenário atual de uma “evolução geral
                    do ensino”. Ao longo dos últimos cinquenta anos, a sociedade passou a
                    exigir “uma formação cada vez mais longa, tanto no plano das normas
                    que regem a organização da vida social e o exercício da cidadania, quan-
                    to no plano dos saberes e competências necessárias para a renovação das
                    funções socioeconômicas” (Tardif; Lessard, 2011a, p. 8). Em face dessas
                    mudanças, as condições para o exercício da docência foram alteradas, mo-
                    vimentando-se na direção de sua profissionalização. A docência torna-se
                    uma atividade especializada e complexa na qual, segundo os sociólogos
                    canadenses, “passou definitivamente a época em que bastava conhecer os
                    rudimentos de uma matéria e algumas receitas para controlar alunos tur-
                    bulentos, para obter o título de professor” (Tardif; Lessard, 2011a, p. 8-9).
                    O exercício da docência ingressa em novas configurações.
                         No decorrer dos anos de 1980, a partir de um conjunto de trans-
                    formações sociais, culturais e econômicas, o trabalho docente é redi-
                    mensionado nas tramas das políticas neoliberais. Responsabilização,
                    descentralização e avaliação de desempenho são concepções que in-
                    gressam na agenda das novas políticas dirigidas aos professores.

                                     Por exemplo, outrora concebida como um serviço público, a
                                     educação é doravante, cada vez mais, considerada como um
                                     investimento, o que se traduz por medidas e exigências novas


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